Ataques de pânico são ocorrências intermitentes de medo ou desconforto intenso de início súbito que são acompanhadas pelo surgimento de hiperexcitação fisiológica.
É caracterizado por uma ideação verbal ou imaginária errônea de catástrofe física ou mental (p. ex., morrer, ficar louco), ansiedade incontrolável intensa e um forte premência de fugir.
A maioria dos episódios de pânico são antecipados porque são provocados por exposição a um estressor identificável. São exemplos: cinemas, supermercados, restaurantes, lojas de departamento, ônibus, trens, aviões, metrôs, dirigir carros, caminhar na rua, ficar sozinho em casa ou estar longe de casa.
Um aspecto fundamental dos episódios de pânico é a tendência a interpretar a ocorrência de certas sensações corporais em termos de um desastre biológico (p. ex., morte), mental (p. ex., insanidade) ou comportamental (p. ex., perda de controle) iminente.
Indivíduos com transtorno de pânico podem interpretar:
a) dor no peito ou um aumento súbito na frequência cardíaca como um sinal de possível ataque cardíaco;
b) estremecimento ou tremor como perda de controle;
c) sentimentos de irrealidade ou despersonalização como um sinal de instabilidade mental ou de “estar ficando louco”.
Comportamento de busca de segurança e evitação de situações relacionadas ao pânico são respostas comuns a ataques e podem ser vistas como estratégias de enfrentamento para prevenir o desastre iminente.
O pânico não deve ser visto como uma forma extrema de ansiedade envolvendo a antecipação de ameaça futura mas, antes, como uma resposta de “luta ou fuga” imediata a perigo iminente percebido.
Mudanças nos estados internos tais como a ocorrência ou intensificação de certas sensações físicas (p. ex., aperto no peito, falta de ar, frequência cardíaca aumentada, náusea) ou processos mentais (p. ex., cabeça vazia, sensação de desrealização) são os gatilhos primários para ataques de pânico.
No modelo cognitivo, ataques de pânico recorrentes ocorrem devido a ativação de esquemas (crenças) duradouras sobre a periculosidade de mudanças fisiológicas específicas. Alguns exemplos de esquemas panicogênicos são “Minhas palpitações cardíacas e dor no peito poderiam ser sinais de que estou tendo um ataque cardíaco potencialmente fatal”, “Meus episódios de falta de ar poderiam levar a sufocação e morte”, “Acessos de tontura poderiam ser causados por um tumor cerebral”, “Essa sensação de náusea poderia me fazer ficar violentamente doente e vomitar”, “Ficar tenso e um pouco nervoso poderia levar a perda de controle e a pânico esmagador” ou “Eu poderia perder o controle de minhas emoções e ficar louco”.
A interpretação catastrófica errônea de sensações corporais causará uma intensificação das sensações internas temidas por vigilância aumentada e um foco interno em sinais interoceptivos. Um ciclo vicioso ocorre no qual o aumento da intensidade da sensação fisiológica ou mental reforça ainda mais a interpretação errônea de que realmente um desastre físico ou mental é iminente.
A dissociação do nível mais alto de processos reflexivos do processamento cognitivo automático é uma condição necessária para um ataque de pânico. A ativação dos esquemas de ameaça fisiológica e subsequente interpretação catastrófica errônea de sensações corporais domina o processamento de informação e inibe a capacidade do paciente em pânico de gerar interpretações alternativas, mais realistas, e benignas das sensações temíveis. Se a reavaliação da ameaça percebida for possível, a interpretação catastrófica errônea será contestada e a escalada do pânico frustrada.
Há cinco metas principais de tratamento na terapia cognitiva para transtorno de pânico. As duas primeiras metas dizem respeito ao processamento do esquema de ameaça automático que ocorre durante a resposta ao medo imediata (Fase I), enquanto as metas restantes se referem a respostas que ocorrem durante o processamento elaborativo (Fase II) (ver Figura 2.1). As metas de tratamento primárias são:
1. Reduzir a sensibilidade e responsividade a sensações físicas e mentais relacionadas ao pânico.
2. Enfraquecer a interpretação catastrófica errônea e os esquemas de ameaça hipervalente subjacentes de estados corporais ou mentais.
3. Aumentar as capacidades de reavaliação cognitiva que resultam em adoção de uma explicação alternativa mais benigna e realista para sintomas aflitivos.
4. Eliminar a evitação e outros comportamentos de busca de segurança maladaptativos.
5. Aumentar a tolerância à ansiedade ou desconforto e reestabelecer um senso de segurança.
Fonte: Terapia Cognitiva para os Transtornos de Ansiedade. David A. Clark; Aaron T. Beck.