Psicologia Clínica

Quando a mente distorce o corpo

Vivemos em uma sociedade que valoriza demasiadamente a cultura ao corpo. Pessoas que supervalorizam padrões estéticos do corpo podem acabar desenvolvendo crenças de que a obtenção deste padrão seja a pressuposição de uma vida feliz. Tais esquemas mentais distorcidos podem levar a uma sequencia de comportamentos disfuncionais pois a felicidade tão almejada pode não ser possível de ser alcançada desta forma.

Pessoas que se preocupam com um ou mais defeitos ou falhas percebidas em sua aparência física, que acreditam parecer feia, sem atrativos, anormal ou deformada, porém não são observáveis ou parecem apenas leves para outros indivíduos podem estar sofrendo de transtorno dismórfico corporal.

Pessoas com transtorno dismórfico corporal possuem preocupações que variam desde parecer “sem atrativos” ou “não adequado” até parecer “hediondo” ou “como um monstro”. Podem focar em uma ou mais áreas do corpo, mais comumente a pele (percepção de acne, cicatrizes, rugas, palidez), os pelos (cabelo “escasso” ou pelo corporal ou facial “excessivo”) ou o nariz (o tamanho ou formato). No entanto, qualquer área do corpo pode ser foco de preocupação (olhos, dentes, peso, estômago, mamas, pernas, tamanho ou formato do rosto, lábios, queixo, sobrancelhas, genitais), outras são preocupadas com a percepção de assimetria de áreas corporais.

Quem sofre de transtorno dismórfico corporal possui preocupações intrusivas e indesejadas que tomam tempo e são difíceis de resistir ou controlar. Causam sofrimento e prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida. Em resposta a preocupação são executados comportamentos repetitivos, atos mentais excessivos os quais o indivíduo se sente compelido a executar e que não são prazerosos podendo aumentar a ansiedade e a disforia. Alguns comparam sua aparência com a de outras pessoas, verificam repetidamente os defeitos percebidos em espelhos ou em outras superfícies refletoras ou examinam-nos diretamente. Arrumam-se de maneira excessiva (penteando, barbeando, depilando ou arrancando os pelos). Tendem a camuflar os defeitos percebidos (aplicando maquiagem repetidamente ou cobrindo as áreas em questão com coisas como chapéu, roupas, maquiagem ou cabelo).

Pessoas com transtorno dismórfico corporal podem procurar tranquilização acerca do aspecto das falhas percebidas como tocar as áreas em questão para verificá-las, fazer exercícios ou levantamento de peso em excesso e procurar procedimentos estéticos.

Alguns se bronzeiam de forma excessiva (para escurecer a pele “pálida” ou diminuir a acne), mudam constantemente de roupa para camuflar os “defeitos” ou compram produtos de beleza de maneira compulsiva. Algumas pessoas chegam a sofrer tanto que chegam a tomar decisões impulsivas e desesperadas que comprometem a saúde e segurança como arrancar a pele compulsivamente com a intenção de melhorar os defeitos percebidos, o que pode causar lesões cutâneas, infecções ou ruptura de vasos sanguíneos. Outras se sujeitam a cirurgias e outros procedimentos estéticos perigosos.

A pessoa que sofre com preocupações com a estética do seu corpo antes de se submeter a procedimentos agressivos precisa de auxílio psicológico pois ela pode estar sofrendo de transtorno dismórfico corporal. Neste caso, o procedimento de transformação estética não será garantia de remissão do sofrimento pois é muito comum que outros transtornos mentais como TOC, ansiedade social e depressão estão relacionados. Neste caso, paralelo a psicoterapia cognitivo comportamental, a pessoa pode precisar de tratamento medicamentoso administrado por psiquiatra.

O tratamento cognitivo comportamental visa corrigir as distorções nas interpretações das percepções da auto-imagem, diminuir a força de pensamentos supervalorizadas e exagero de consequencias negativas relacionado aos outros. Estimula a olhar a vida de forma mais abrangente focando a atenção também para outras qualidades como a inteligência, a moral e outras habilidades pessoais.