PSICOPATOLOGIAS

Transtornos Depressivos

Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor

A característica central do transtorno disruptivo da desregulação do humor é a irritabilidade crônica grave. Essa irritabilidade grave apresenta duas manifestações clínicas proeminentes, sendo a primeira as frequentes explosões de raiva. 

Essas explosões tipicamente ocorrem em resposta à frustração e podem ser verbais ou comportamentais (estas últimas na forma de agressão contra propriedade, si mesmo ou outros).

Transtorno Depressivo Maior

Humor deprimido deve estar presente na maior parte do dia, além de estar presente quase todos os dias. Insônia ou fadiga frequentemente são a queixa principal apresentada. A tristeza pode ser negada inicialmente, mas pode ser revelada por meio de entrevista ou inferida pela expressão facial e por atitudes.

Transtorno Depressivo Persistente (Distimia)

Os indivíduos com transtorno depressivo persistente (Distimia) descrevem seu humor como triste ou “na fossa”. A característica essencial é um humor depressivo que ocorre na maior parte do dia, na maioria dos dias, por pelo menos dois anos, ou por pelo menos um ano para crianças e adolescentes.


Transtornos de Ansiedade

Transtorno de Ansiedade de Separação

 A característica essencial do transtorno de ansiedade de separação é o medo ou a ansiedade excessivos envolvendo a separação de casa ou de figuras de apego. Preocupação com o bem-estar ou a morte de figuras de apego, particularmente quando separados delas, precisam saber o paradeiro das suas figuras de apego e querem ficar em contato com elas.

Fobia Específica

Uma característica essencial desse transtorno é que o medo ou ansiedade está circunscrito à presença de uma situação ou objeto particular, que pode ser denominado estímulo fóbico. Muitos indivíduos temem objetos ou situações de mais de uma categoria, ou estímulo fóbico. 

Os estímulos fóbicos podem ser de categoria animal: aranhas, insetos, cães, gatos, etc. Ambiente natural: alturas, tempestade, água. Sangue, injeção e ferimentos: agulhas ou procedimentos médicos invasivos. Situacional: aviões, elevadores, locais fechados. Outro: situações que podem levar a asfixia ou vômitos, sons altos ou personagens vestidos com trajes de fantasia.

Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social) 

A característica essencial do transtorno de ansiedade social é um medo ou ansiedade acentuados ou intensos de situações sociais nas quais o indivíduo pode ser avaliado pelos outros. Quando exposto a essas situações sociais, o indivíduo tem medo de ser avaliado negativamente. Ele tem a preocupação de que será julgado como ansioso, débil, maluco, estúpido, enfadonho, amedrontado, sujo ou desagradável. 

O indivíduo teme agir ou aparecer de certa forma ou demonstrar sintomas de ansiedade, tais como ruborizar, tremer, transpirar, tropeçar nas palavras, que serão avaliados negativamente pelos demais. Alguns têm medo de ofender os outros ou de ser rejeitados como consequência.

Pânico 

Transtorno de pânico se refere a ataques de pânico inesperados recorrentes. Um ataque de pânico é um surto abrupto de medo ou desconforto intenso que alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem sintomas físicos e cognitivos. O termo recorrente significa literalmente mais de um ataque de pânico inesperado. O termo inesperado se refere a um ataque de pânico para o qual não existe um indício ou desencadeante óbvio no momento da ocorrência – ou seja, o ataque parece vir do nada, como quando o indivíduo está relaxando ou emergindo do sono (ataque de pânico noturno). Em contraste, os ataques de pânico esperados são ataques para os quais existe um indício ou desencadeante óbvio, como uma situação em que os ataques de pânico ocorrem geralmente. 

Agorafobia

A característica essencial da agorafobia é o medo ou ansiedade acentuado ou intenso desencadeado pela exposição real ou prevista a diversas situações como uso de transporte público, como automóveis, ônibus, trens, navios ou aviões, permanecer em espaços abertos, como áreas de estacionamento, mercados ou pontes, permanecer em locais fechados, como lojas, teatros ou cinemas, permanecer em uma fila ou ficar em meio a uma multidão ou sair de casa sozinho.

Transtorno de Ansiedade Generalizada

As características essenciais do transtorno de ansiedade generalizada são ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva) acerca de diversos eventos ou atividades. A intensidade, duração ou frequência da ansiedade e preocupação é desproporcional à probabilidade real ou ao impacto do evento antecipado. O indivíduo tem dificuldade de controlar a preocupação e de evitar que pensamentos preocupantes interfiram na atenção às tarefas em questão. 

Os adultos com transtorno de ansiedade generalizada frequentemente se preocupam com circunstâncias diárias da rotina de vida, como possíveis responsabilidades no trabalho, saúde e finanças, a saúde dos membros da família, desgraças com seus filhos ou questões menores (p. ex., realizar as tarefas domésticas ou se atrasar para compromissos).


Transtorno Obsessivo-compulsivo e Relacionados

Transtorno Obsessivo-compulsivo TOC

O sintoma característico é a presença de obsessões e compulsões. Obsessões são pensamentos repetitivos e persistentes (p. ex., de contaminação), imagens (p. ex., de cenas violentas ou horrorizantes) ou impulsos (p. ex., apunhalar alguém). 

É importante observar que as obsessões não são prazerosas ou experimentadas como voluntárias: são intrusivas e indesejadas e causam acentuado sofrimento ou ansiedade na maioria das pessoas. O indivíduo tenta ignorá-las ou suprimi-las (p. ex., evitando os desencadeantes ou usando a supressão do pensamento) ou neutralizá-las com outro pensamento ou ação (p. ex., executando uma compulsão). 

Compulsões (ou rituais) são comportamentos repetitivos (p. ex., lavar, verificar) ou atos mentais (p. ex., contar, repetir palavras em silêncio) que o indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma ob-sessão ou de acordo com regras que devem ser aplicadas rigidamente.

Transtorno Dismórfico Corporal

Os indivíduos com transtorno dismórfico corporal (anteriormente conhecido como dismorfofobia) são preocupados com um ou mais defeitos ou falhas percebidas em sua aparência física, que acreditam parecer feia, sem atrativos, anormal ou deformada. 

As falhas percebidas não são observáveis ou parecem apenas leves para outros indivíduos. As preocupações variam desde parecer “sem atrativos” ou “não adequado” até parecer “hediondo” ou “como um monstro”. 

Transtorno de Acumulação

A característica essencial do transtorno de acumulação são as dificuldades persistentes de des-cartar ou se desfazer de pertences, independentemente do seu valor real. O termo persistente indica uma dificuldade permanente em vez de circunstâncias vitais mais transitórias que podem levar ao acúmulo excessivo. 

A dificuldade em descartar pertences observada refere-se a qualquer forma de descarte, incluindo jogar fora, vender, dar ou reciclar. As principais razões dadas para essas dificuldades são a utilidade percebida ou o valor estético dos itens ou um forte apego sentimental aos pertences.


Trauma e Estressores

Transtorno de Estresse Pós-traumático TEPT

A característica essencial do transtorno de estresse pós-traumático é o desenvolvimento de sin-tomas característicos após a exposição a um ou mais eventos traumáticos. 

Em alguns indivíduos, sintomas de revivência do medo, emocionais e comportamentais podem predominar. Os eventos traumáticos do sofridos diretamente incluem, mas não se limitam a, exposição a guerra como combatente ou civil, ameaça ou ocorrência real de agressão física (ataque físico, assalto, furto, abuso físico infantil), ameaça ou ocorrência real de violência sexual, sequestro, ser mantido refém, ataque terrorista, tortura, encarceramento como prisioneiro de guerra, desastres naturais ou perpetrados pelo homem e acidentes automobilísticos graves.

Transtornos de Adaptação

A presença de sintomas emocionais ou comportamentais em resposta a um estressor identificável é o aspecto essencial dos transtornos de adaptação. O estressor pode ser um único evento (p. ex., o término de um relacionamento afetivo), ou pode haver múltiplos estressores (p. ex., dificuldades profissionais acentuadas e problemas conjugais). 

Os estressores podem ser recorrentes (p. ex., associados a crises profissionais cíclicas, relacionamentos sexuais insatisfatórios) ou contínuos (p. ex., uma doença dolorosa persistente com incapacidade crescente, morar em área de alta criminalidade) e podem afetar um único indivíduo ou uma família inteira, um grupo maior ou uma comunidade (p. ex., um desastre natural). 

Alguns estressores podem acompanhar eventos específicos do desenvolvimento (p. ex., ir para a escola, deixar a casa dos pais, voltar para a casa dos pais, casar-se, tornar-se pai/mãe, fracassar em metas profissionais, aposentadoria).


Somáticos 

Transtorno de Sintomas Somáticos

Indivíduos com transtorno de sintomas somáticos geralmente apresentam sintomas somáticos múltiplos e atuais que provocam sofrimento ou resultam em perturbação significativa da vida diária, embora às vezes apenas um sintoma grave, mais comumente dor, esteja presente. 

Os sintomas podem ser específicos (p. ex., dor localizada) ou relativamente inespecíficos (p. ex., fadiga). Por vezes representam sensações ou desconfortos corporais normais que geralmente não significam doença grave. O sofrimento do indivíduo é autêntico, seja ou não explicado em termos médicos.

Transtorno de Ansiedade de Doença

A maioria dos indivíduos hipocondríacos é hoje classificada como portadora de transtorno de sintomas somáticos; entretanto, em uma minoria de casos, o diagnóstico de transtorno de an-siedade de doença se aplica, o qual envolve uma preocupação com ter ou contrair uma doença médica grave não diagnosticada. 

A preocupação com a ideia de estar doente é acompanhada por uma ansiedade substancial com relação a saúde e doença. Indivíduos com transtorno de ansiedade de doença tornam-se facilmente assustados por doenças, como ao saber que alguém ficou doente ou ao ler uma reportagem relacionada à saúde.


Transtornos Alimentares

Anorexia Nervosa

A anorexia nervosa tem três características essenciais: restrição persistente da ingesta calórica; medo intenso de ganhar peso ou de engordar ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso; e perturbação na percepção do próprio peso ou da própria forma. O indivíduo mantém um peso corporal abaixo daquele minimamente normal para idade, gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde física.

A vivência e a significância do peso e da forma corporal são distorcidas nesses indivíduos. Algumas pessoas sentem-se completamente acima do peso. Outras percebem que estão magras, mas ainda assim se preocupam com determinadas partes do corpo, em particular que o abdome, os glúteos e o quadril estão “gordos demais”. Elas podem empregar uma variedade de técnicas para avaliar o tamanho ou o peso de seus corpos, incluindo pesagens frequentes, medição obsessiva de partes do corpo e uso persistente de um espelho para checar áreas percebidas de “gordura”. 

Bulimia Nervosa

Existem três aspectos essenciais na bulimia nervosa: episódios recorrentes de compulsão ali-mentar, comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes para impedir o ganho de peso e autoavaliação indevidamente influenciada pela forma e pelo peso corporais. Para se qualificar ao diagnóstico, a compulsão alimentar e os comporta-mentos compensatórios inapropriados devem ocorrer, em média, no mínimo uma vez por sema-na por três meses.


Disfunções Sexuais

Transtorno Erétil

A característica particular do transtorno erétil é a falha repetida em obter ou manter ereções durante as atividades sexuais com parceira. A obtenção cuidadosa de uma história sexual é imprescindível para verificar se o problema esteve presente por um período de tempo significativo (pelo menos aproximadamente seis meses) e ocorre na maioria das ocasiões sexuais (pelo menos 75% das vezes). Os sintomas podem ocorrer somente em situações específicas envolvendo determinados tipos de estimulação ou de parceiros ou podem ocorrer de forma generalizada em todos os tipos de situações, estimulações ou parceiros.

Transtorno do Desejo Sexual Masculino Hipoativo

A avaliação do transtorno do desejo sexual masculino hipoativo deve levar em consideração o contexto interpessoal. Uma “discrepância do desejo”, na qual o desejo de atividade sexual de um homem é mais baixo do que o de sua parceira, não é suficiente para diagnosticar o transtorno. Tanto o desejo baixo/ falta de desejo para o sexo como a deficiência/ausência de pensamentos ou fantasias sexuais são imprescindíveis para o diagnóstico. A forma de expressão do desejo sexual pode variar entre os homens.

Ejaculação Prematura (Precoce) 

A ejaculação prematura (precoce) manifesta-se pela ejaculação que ocorre antes ou logo após a penetração vaginal, avaliada pela estimativa individual de latência ejaculatória (tempo decorrido antes da ejaculação) após a penetração vaginal. O tempo de latência ejaculatória intravaginal de 60 segundos é um ponto de corte adequado para o diagnóstico de ejaculação prematura (precoce) ao longo da vida em homens heterossexuais. Não existem dados suficientes para determinar se esse critério de duração pode ser aplicado à ejaculação prematura (precoce) adquirida.


Transtornos Disruptivos, do Controle de Impulsos e da Conduta

Transtorno de Oposição Desafiante

A característica essencial do transtorno de oposição desafiante é um padrão frequente e persistente de humor raivoso/irritável, de comportamento questionador/desafiante ou de índole vingativa. Não é raro indivíduos com transtorno de oposição desafiante apresentarem características comportamentais do transtorno na ausência de problemas de humor negativo. 

Entretanto, as pessoas com o transtorno que apresentam sintomas de humor raivoso/irritável costumam também demonstrar características comportamentais. Com frequência, os sintomas do transtorno fazem parte de um padrão de interações problemáticas com outras pessoas. Além disso, geralmente indivíduos com esse transtorno não se consideram raivosos, opositores ou desafiadores. Em vez disso, costumam justificar seu comportamento como uma resposta a exigências ou circunstâncias despropositadas.

Transtorno Explosivo Intermitente

As explosões de agressividade impulsivas (ou decorrentes de raiva) no transtorno explosivo intermitente têm início rápido e, geralmente. Em geral, as explosões duram menos de 30 minutos e costumam ocorrer em resposta a uma provocação mínima por um amigo íntimo ou um colega. 

Com frequência, indivíduos com transtorno explosivo intermitente apresentam episódios menos graves de violência verbal e/ou física que não causa dano, destruição ou lesões em meio a episódios mais graves, destrutivos/violentos. As explosões de agressividade frequentes ocorrem em média duas vezes por semana, por um período de três meses. Se caracterizam por acessos de raiva, injúrias, discussões verbais ou brigas ou violência com ou sem causar danos a objetos ou lesões em animais ou em outros indivíduos. 

Independentemente da natureza da explosão de agressividade impulsiva, a característica básica do transtorno explosivo intermitente é a incapacidade de controlar comportamentos agressivos impulsivos em resposta a provocações vivenciadas subjetivamente (estressores psicossociais) que em geral não resultariam em explosões agressivas.

Transtorno da Conduta

A característica essencial do transtorno da conduta é um padrão comportamental repetitivo e

persistente no qual são violados direitos básicos de outras pessoas ou normas ou regras sociais relevantes e apropriadas para a idade. Esses comportamentos se enquadram em quatro grupos principais: conduta agressiva que causa ou ameaça causar danos físicos a outras pessoas ou animais; conduta não agressiva que causa perda ou danos a propriedade; falsidade ou furto; e violações graves de regras. 

A perturbação comportamental causa prejuízos clinicamente significativos no funcionamento social, acadêmico ou profissional. Em geral, o padrão de comportamento está presente em vários ambientes, tais como casa, escola ou comunidade.


Transtornos Relacionados a Substâncias

A característica essencial de um transtorno por uso de substâncias consiste na presença de um agrupamento de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos indicando o uso contínuo de uma substância pelo indivíduo apesar de problemas significativos relacionados. Pode se aplicar a álcool, cannabis, alucinógenos, inalantes, opióides, sedativos, hipnóticos, ansiolíticos, estimulantes e tabaco.

Uma característica importante dos transtornos por uso de substâncias é uma alteração básica nos circuitos cerebrais que pode persistir após a desintoxicação, especialmente em indivíduos com transtornos graves. Os efeitos comportamentais dessas alterações cerebrais podem ser exi-bidos nas recaídas constantes e na fissura intensa por drogas quando os indivíduos são expostos a estímulos relacionados a elas. Uma abordagem de longo prazo pode ser vantajosa para o tratamento desses efeitos persistentes da droga.

De modo geral, o diagnóstico de um transtorno por uso de substância baseia-se em um padrão patológico de comportamentos relacionados ao seu uso.  O indivíduo pode consumir a substância em quantidades maiores ou ao longo de um período maior de tempo do que pretendido originalmente, pode expressar um desejo persistente de reduzir ou regular o uso da substância. Pode relatar vários esforços malsucedidos para diminuir ou descontinuar o uso ou gastar muito tempo para obter a substância, usá-la ou recuperar-se de seus efeitos. 

Em alguns casos de transtornos mais graves por uso de substância, praticamente todas as atividades diárias do indivíduo giram em torno da substância. A fissura se manifesta por meio de um desejo ou necessidade intensos de usar a droga que podem ocorrer a qualquer momento, mas com maior probabilidade quando em um ambiente onde a droga foi obtida ou usada anteriormente. 

Demonstrou-se também que a fissura envolve condicionamento clássico e está associada à ativação de estruturas específicas de recompensa no cérebro. Investiga-se a fissura ao perguntar se alguma vez o indivíduo teve uma forte necessidade de consumir a droga a ponto de não conseguir pensar em mais nada. A fissura atual costuma ser usada como medida de resultado do tratamento porque pode ser um sinal de recaída iminente. O prejuízo social, fracasso em cumprir as principais obrigações no trabalho, na escola ou no lar. O indivíduo pode continuar o uso da substância apesar de apresentar problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou exacerbados por seus efeitos. 

Atividades importantes de natureza social, profissional ou recreativa podem ser abandonadas ou reduzidas devido ao uso da substância . O indivíduo pode afastar-se de atividades em família ou passatempos a fim de usar a substância, usar de forma arriscada da substância e se colocar em situações que envolvem risco à integridade física. O indivíduo pode continuar o uso apesar de estar ciente de apresentar um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que provavelmente foi causado ou exacerbado pela substância.


 Transtornos de Personalidade

Transtorno da Personalidade Paranoide

A característica essencial do transtorno da personalidade paranoide é um padrão de desconfian-ça e suspeita difusa dos outros a ponto de suas motivações serem interpretadas como malévolas. Esse padrão começa no início da vida adulta e está presente em contextos variados.

Indivíduos com esse transtorno creem que outras pessoas irão explorá-los, causar-lhes dano ou enganá-los, mesmo sem evidências que apoiem essa expectativa. Suspeitam, com base em pouca ou nenhuma evidência, de que outros estão tramando contra eles e podem atacá-los de repente, a qualquer momento e sem razão. 

Costumam achar que foram profunda e irreversivelmente maltratados por outra pessoa ou pessoas, mesmo na ausência de evidências objetivas para tal. São preocupados com dúvidas injustificadas acerca da lealdade ou confiança de seus amigos e sócios, cujas ações são examinadas minuciosamente em busca de evidências de intenções hostis. Qualquer desvio percebido da confiança ou lealdade serve de apoio a seus pressupostos subjacentes. Ficam tão surpresos quando um amigo ou sócio demonstra lealdade que não conseguem confiar ou crer nisso. Quando envolvidos em problemas, esperam que amigos e sócios os ataquem ou ignorem. 

Transtorno da Personalidade Esquizoide

A característica essencial do transtorno da personalidade esquizoide é um padrão difuso de distanciamento das relações sociais e uma faixa restrita de expressão de emoções em contextos interpessoais. Esse padrão surge no começo da vida adulta e está presente em vários contextos. Indivíduos com transtorno da personalidade esquizoide demonstram não ter desejo de intimidade, parecem indiferentes a oportunidades de desenvolver relações próximas e não parecem encontrar muita satisfação em fazer parte de uma família ou de outro grupo social. 

Preferem ficar sozinhos em vez de com outras pessoas. Com frequência parecem ser socialmente isolados ou “solitários” e quase sempre optam por atividades ou passatempos solitários que não incluem interação com outros. Preferem tarefas mecânicas ou abstratas, como jogos matemáticos ou de computador. Podem ter muito pouco interesse em ter experiências sexuais com outra pessoa e têm prazer em poucas atividades, quando não em nenhuma. 

Transtorno da Personalidade Esquizotípica

A característica essencial do transtorno da personalidade esquizotípica é um padrão difuso de déficits sociais e interpessoais marcado por desconforto agudo e capacidade reduzida para re-lacionamentos íntimos, bem como por distorções cognitivas ou perceptivas e comportamento excêntrico. Esse padrão surge no começo da vida adulta e está presente em vários contextos. Indivíduos com transtorno da personalidade esquizotípica com frequência realizam interpretações incorretas de incidentes casuais e eventos externos como tendo um sentido particular e incomum especificamente para a pessoa. 

Esses indivíduos podem ser supersticiosos ou preocupados com fenômenos paranormais que fogem das normas de sua subcultura. Podem achar que têm poderes especiais para sentir os eventos antes que ocorram ou para ler os pensamentos alheios. Podem acreditar que exercem controle mágico sobre os outros, o qual pode ser implementado diretamente (p. ex., a crença de que o fato de o cônjuge estar levando o cachorro para passear é consequência direta de, uma hora antes, ter pensado que isso devia ser feito) ou indiretamente, por meio de obediência a rituais mágicos (p. ex., passar três vezes por determinado objeto para evitar uma consequência danosa). Alterações perceptivas podem estar presentes (p. ex., sentir que outra pessoa está presente ou ouvir uma voz murmurando seu nome. 

Seu discurso pode incluir fraseados e construções incomuns ou idiossincrásicas e costuma ser desconexo, digressivo ou vago, embora sem apresentar um real descarrilhamento ou incoerência. Respostas podem ser excessivamente concretas ou abstratas, e palavras e conceitos são, por vezes, aplicados de maneiras pouco habituais (p. ex., o indivíduo pode afirmar que não estava “conversável” no trabalho).

Transtorno da Personalidade Antissocial

A característica essencial do transtorno da personalidade antissocial é um padrão difuso de indi-ferença e violação dos direitos dos outros, o qual surge na infância ou no início da adolescência e continua na vida adulta. Esse padrão também já foi referido como psicopatia, sociopatia ou trans-torno da personalidade dissocial. Falsidade e manipulação são aspectos centrais do transtorno da personalidade antissocial. 

Para que esse diagnóstico seja firmado, o indivíduo deve ter no mínimo 18 anos de idade e deve ter apresentado alguns sintomas de transtorno da conduta antes dos 15 anos. O transtorno da conduta envolve um padrão repetitivo e persistente de comportamento no qual os direitos básicos dos outros ou as principais normas ou regras sociais apropriadas à idade são violados. 

Os comportamentos específicos característicos do transtorno da conduta encaixam-se em uma de quatro categorias: agressão a pessoas e animais, destruição de propriedade, fraude ou roubo ou grave violação a regras. 

Transtorno da Personalidade Borderline

A característica essencial do transtorno da personalidade borderline é um padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem e de afetos e de impulsividade acentuada que surge no começo da vida adulta e está presente em vários contextos. Indivíduos com o transtorno da personalidade borderline tentam de tudo para evitar abandono real ou imaginado. A percepção de uma separação ou rejeição iminente ou a perda de estrutura externa podem levar a mudanças profundas na autoimagem, no afeto, na cognição e no comportamento. 

Esses indivíduos são muito sensíveis às circunstâncias ambientais. Vivenciam medos intensos de abandono e experimentam raiva inadequada mesmo diante de uma separação de curto prazo realística ou quando ocorrem mudanças inevitáveis de planos (p. ex., pânico ou fúria quando alguém importante para eles se atrasa alguns minutos ou precisa cancelar um compromisso). Esses indivíduos podem achar que esse “abandono” implica que eles são “maus”. Tais medos de abandono têm relação com intolerância a ficar só e necessidade de ter outras pessoas ao redor. Os esforços desesperados para evitar o abandono podem incluir ações impulsivas como automutilação ou comportamentos suicidas.

Transtorno da Personalidade Histriônica

A característica essencial do transtorno da personalidade histriônica é a emocionalidade excessiva e difusa e o comportamento de busca de atenção. Esse padrão surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos.

Indivíduos com o transtorno da personalidade histriônica sentem-se desconfortáveis ou não valorizados quando não estão no centro das atenções. Normalmente cheios de vida e dramáticos, tendem a atrair atenção para si mesmos e podem inicialmente fazer novas amizades por seu entusiasmo, abertura aparente ou sedução. Essas qualidades se extinguem, todavia, à medida que esses indivíduos demandam continuadamente ser o centro das atenções. Eles comandam o papel de “vida da festa”. Caso não sejam o centro das atenções, podem fazer algo dramático (p. ex., inventar histórias, criar uma cena) para atrair o foco da atenção para si. 

Transtorno da Personalidade Narcisista

A característica essencial do transtorno da personalidade narcisista é um padrão difuso de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos.

Indivíduos com o transtorno têm um sentimento grandioso da própria importância. Superestimam de forma rotineira suas capacidades e exageram suas conquistas, com frequência parecendo pretensiosos e arrogantes. Podem tranquilamente partir do pressuposto de que os outros atribuem o mesmo valor aos seus esforços e podem surpreender-se quando o elogio que esperam e o sentimento que sentem merecer não ocorrem. Comumente implícita nos juízos inflados das próprias conquistas está uma subestimação das contribuições dos outros. 

Indivíduos com transtorno da personalidade narcisista estão frequentemente preocupados com fantasias de sucesso ilimitado, poder, brilho, beleza ou amor ideal. Podem ruminar acerca de admiração e privilégios “há muito devidos” e comparar-se favoravelmente a pessoas famosas ou privilegiadas. 

Transtorno da Personalidade Evitativa

A característica essencial do transtorno da personalidade evitativa é um padrão difuso de inibi-ção social, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade a avaliação negativa que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos.

Indivíduos com transtorno da personalidade evitativa esquivam-se de atividades no trabalho que envolvam contato interpessoal significativo devido a medo de crítica, desaprovação ou rejeição. Ofertas de promoções na vida profissional podem não ser aceitas pelo fato de novas responsabilidades poderem resultar em críticas de colegas. Esses indivíduos evitam fazer novos amigos, a menos que tenham certeza de que serão recebidos de forma positiva e aceitos sem críticas. Até que passem em testes rígidos que provem o contrário, às outras pessoas é atribuída uma natureza crítica e desaprovadora. 

Indivíduos com esse transtorno não participam de atividades em grupo, a não ser que tenham ofertas repetidas e generosas de apoio e atenção. A intimidade interpessoal costuma ser difícil para eles, embora consigam estabelecer relacionamentos íntimos quando há certeza de aceitação sem críticas. Podem agir de forma reservada, ter dificuldades de conversar sobre si mesmos e conter os sentimentos íntimos por medo de exposição, do ridículo ou de sentirem vergonha.

Transtorno da Personalidade Dependente

A característica essencial do transtorno da personalidade dependente é uma necessidade difusa e excessiva de ser cuidado que leva a comportamento de submissão e apego e a temores de separação. Esse padrão surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos. Os comportamentos de dependência e submissão formam-se com o intuito de conseguir cuidado e derivam de uma autopercepção de não ser capaz de funcionar adequadamente sem a ajuda de outros. 

Indivíduos com o transtorno da personalidade dependente apresentam grande dificuldade em tomar decisões cotidianas (p. ex., a cor de camisa a vestir ou levar ou não o guarda-chuva) sem uma quantidade excessiva de conselhos e reasseguramentos oferecidos por outros. Esses indivíduos tendem a ser passivos e a permitir que outros (frequentemente apenas uma pessoa) tomem a iniciativa e assumam a responsabilidade pela maior parte das principais áreas de suas vidas.  

Transtorno da Personalidade Obsessivo-compulsiva

A característica essencial do transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva é uma preocupação com ordem, perfeccionismo e controle mental e interpessoal à custa de flexibilidade, abertura e eficiência. Esse padrão surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos. 

Indivíduos com transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva tentam manter uma sensação de controle por meio de atenção cuidadosa a regras, pequenos detalhes, procedimentos, listas, cronogramas ou forma a ponto de o objetivo principal da atividade ser perdido. São excessivamente cuidadosos e propensos à repetição, prestando extraordinária atenção aos detalhes e conferindo repetidas vezes na busca por possíveis erros. Esquecem o fato de que outras pessoas podem se incomodar muito com os atrasos e as inconveniências que resultam desse comportamento.  

O perfeccionismo e os padrões elevados de desempenho autoimpostos causam disfunção e sofrimento significativo a esses indivíduos. Podem ficar de tal forma envolvidos em tornar cada detalhe de um projeto absolutamente perfeito que este jamais é concluído. Por exemplo, a conclusão de um relatório escrito é retardada por várias reescritas que tomam tempo, para tudo ficar aquém da “perfeição”. Prazos não são atendidos, e aspectos da vida do indivíduo que não são o foco atual da atividade podem desorganizar-se.